quinta-feira, 2 de julho de 2009

SENTINELAS DO AMANHÃ

SENTINELAS DO AMANHÃ

O Papa João Paulo II, na sua mensagem para a XVII Jornada Mundial da Juventude, em Toronto, 28 de julho de 2002, convocou os jovens a serem "sentinelas da manhã". Um convite-convocação para que os jovens se empenhem na renovação do mundo à luz do Plano de Deus. Esta resposta só é possível para os jovens que não temem o sacrifício, nem a entrega da própria vida, mas temem uma vida vivida sem sentido.

Este é um desafio que supera as proporções e injunções todas de crises econômicas e políticas. O sentido da vida é a fonte e alavanca de tudo. Este sentido não se produz simplesmente com alguns cálculos e estratégias que favorecem a conquista do bem estar ou de garantias materiais. O sentido autêntico da vida para os jovens é "a capacidade para se opor às falsas ilusões de felicidade e aos paraísos das drogas, do prazer, do álcool e de todas as formas de violência", diz o Documento de Aparecida. Ao celebrar o Domingo de Ramos, abertura da Semana Maior, a Semana Santa, pela vivência e seguimento dos passos do Senhor Jesus, celebrando o mistério pascal de sua morte e ressurreição, a Igreja congrega, em cada diocese do mundo, em torno do seu bispo, pastor maior, os jovens. É a XXIV Jornada Mundial da Juventude.

Com o gesto de acompanhar a procissão de ramos, a Igreja reaviva e sela no coração de todos, particularmente dos jovens, a fonte insubstituível de sentido para suas vidas pela experiência do seguimento de Jesus Cristo. Este horizonte claro e animador, no entanto, se contrasta com a situação lamentável dos jovens na sociedade contemporânea. Os jovens estão afetados pelas seqüelas da pobreza, impossibilitando o crescimento de suas vidas e jogados na exclusão; afetados por uma educação de baixa qualidade, deixando-os abaixo de níveis razoáveis de competitividade, vítimas, não raramente, de enfoques antropológicos reducionistas, incapacitando-os a tomar decisões duradouras, pela restrição de seu horizonte de vida. Não se pode desconsiderar a carga pesada da alienação e até mesmo das novas propostas religiosas e pseudo-religiosas, além das crises familiares que aprofundam carências afetivas e multiplicam os conflitos emocionais.

É triste e preocupante o cenário, com suas alarmantes estatísticas, para consideração de governantes e cidadãos todos, quando se trata dos jovens em situação permanente de risco, com oportunidades escassas, escravizados pela droga e vítimas de violências. A morte violenta de jovens é uma calamidade pública e vergonhosa, exigindo de governos políticas públicas mais ágeis e decisivas. É irrelevante a contabilização de políticas públicas governamentais mais efetivas para a recuperação de jovens que já perderam o lustro de suas vidas em razão das drogas, do tráfico e de uma concepção equivocada acerca de suas vidas. Esta exigência se espraia para tocar as confissões religiosas, os cidadãos de boa vontade motivando-os a ações, ainda que miúdas e pulverizadas, colocando a todos em estado permanente de mutirão para salvar, amparar, promover e apoiar os jovens neste momento crucial de suas vidas. É preciso fazer sempre, sempre mais, incansavelmente, para que esta guerra da violência que está dizimando a juventude brasileira não continue a crescer em estatísticas tão deprimentes.

A promoção da XXIV Jornada Mundial da Juventude, neste Domingo de Ramos, é oportunidade para lembrar a todos da urgência do comprometimento com a juventude, respondendo, diariamente, o que se fez e o que se fará, hoje, agora, pelos jovens, especialmente aqueles que estão enterrados, sem saída, em situações terríveis de risco. O Papa Bento XVI, na sua mensagem, retoma um compromisso importante e decisivo que a Igreja tem na vivência de sua opção preferencial pelos jovens. É o compromisso de educar os jovens para a esperança, ajudando-os a sair da crise de esperança que atinge especialmente as novas gerações, reavivando o lustro próprio da juventude que é tempo de esperança. Infundir esta esperança nos jovens significa, antes de tudo, garantir-lhes e facilitar-lhes a participação nas comunidades de fé e na vivência familiar, de modo que experimentem que só em Deus o ser humano encontra sua verdadeira realização, e o encontro pessoal com Cristo é sua concretização. Inclui também a disposição cidadã de atuar para ajudar os jovens nas suas dificuldades de estudo, falta de trabalho, incompreensões na família, doenças, deficiências, carências de recursos. Esta celebração firme a opção preferencial pelos jovens, justifique a candidatura do Brasil para sediar a Jornada Mundial da Juventude de 2014, e Belo Horizonte, candidata para ser palco do evento, esteja mais preparada pela efetivação de compromissos e políticas públicas e ações eclesiais mais efetivas pelos jovens. É preciso trabalhar muito para que os jovens sejam "enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé" (Cl 2,7).

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
[Foto disponível no blog BH na Jornada]

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