terça-feira, 15 de maio de 2012

PARA FRENTE E PARA O ALTO

Artigo de Espiritualidade de Dom Alberto Taveira Corrêa

BELEM, terça-feira, 15 de maio de 2012 (ZENIT.org) - Oferecemos aos nossos leitores o artigo de espiritualidade semanal enviado pelo nosso colaborador habitual, Dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo metropolitano de Belém do Pará.
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“Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que, do meio de vós, foi elevado ao céu, virá assim, do mesmo modo como o vistes partir para o céu” (At 1,11). Os discípulos formados por Jesus foram acalentados com sua presença e agora se veem lançados à missão, encarregados por ele, quando de sua partida para o Céu, de levar a Boa Nova do Evangelho a todos os recantos da terra: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado” (Mc 16,15-16).
Em todas as etapas de sua caminhada por esta terra os cristãos são desafiados buscarem o ponto certo para pousarem seu olhar e suas esperanças. Trata-se de encontrar o ponto de referência que lhes possibilite navegar pelas águas agitadas da vida, sem perder o rumo. Caminhar a esmo, sem clareza de objetivos, não dá consistência a qualquer trabalho humano. Como da parte de Deus há sempre a clareza de que deseja a salvação de todos e quer formar uma única família, que quer o mundo unido e lança, pela ação do Espírito, as sementes do Verbo em todas as partes, é preciso sempre aprender e seguir os passos do Salvador. O Evangelho de São Marcos já constatava que “os discípulos foram anunciar a Boa Nova por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra pelos sinais que a acompanhavam” (Mc 16,20).
O cristão busca as coisas do alto, onde Cristo está à direita do Pai (Cf. Cl 3,1). Sua tarefa não é apenas olhar para a realidade que o envolve, mas semear a esperança, propondo novos caminhos. O olhar do pesquisador, que aponta as tendências e constata a opinião pública é insuficiente para ele. Antes, cabe-lhe propor um jeito diferente de viver, cuja origem é “do alto”. Quando tudo aponta para a ganância e o acúmulo de bens, trata-se de semear a partilha e a comunhão. Quando o olhar do analista do dia a dia enxerga apenas os crimes e a corrupção, vamos ao encontro de novas práticas de partilha, existentes bem perto da gente, apostamos na esperança, ajudamos as pessoas a se levantarem e a recomeçarem.
Alguns fatos me chamaram a atenção recentemente. Em visita ao “MUPAT”, uma organização na “Cidade Nova”, região de Ananindeua, na Arquidiocese de Belém, encontrei uma casa, posta à disposição de um grupo de pessoas, onde trabalhos muito simples, com materiais muito simples, são destinados a ajudar os membros da organização não governamental e a servir aos mais pobres. Dois adolescentes, filhos e um catador de lixo, tornam-se “mestres”, que ensinam sua arte de aproveitarem garrafas “pet”. À costura feita pelas mulheres que ali se reúnem se ajunta a conversa, na partilha das dificuldades e na descoberta de soluções para educar os filhos. Uma delas contava a respeito do filho, hoje consagrado a Deus, saído de situações de risco. Um mundo novo, bem simples, ao alcance de nosso olhar e de nossa mão! Outro fato foi a observação de um profissional de comunicação, em meio à grandiosa procissão das velas, na Festa de Nossa Senhora de Fátima. Partilhava comigo a alegria de sua escala de serviço, quando, acostumado a pautas que incluem diariamente crimes e escândalos, era escalado naquele dia para uma festa de fé! Parece pouco, mas seu coração e o mundo ficaram diferentes, pois a câmera com que trabalhava colhia imagens diferentes, era purificada pelo bem que gravava. Não menos significativo foi o fato de, nesta semana, ter assinado a Escritura com a qual a “Obra Social Nossa Senhora da Glória” recebeu a área localizada em Mosqueiro e na qual será implantada, na Arquidiocese de Belém, a “Fazenda da Esperança”, para a recuperação de pessoas que se envolveram com drogas. Há tudo para fazer, mas já começamos!
A realidade que nos cerca é muito pequena para o tamanho do sonho plantado por Deus. Fomos feitos por ele para o que é melhor! Daí a positiva inquietação do cristão que pretende viver sua fé. Onde quer que se encontre, planta novas ideias, descobre soluções simples, acredita nos pequenos gestos, aposta no bem que pode ser feito.
A Solenidade da Ascensão do Senhor, celebrada pela Igreja, tornou-se o Dia Mundial das Comunicações Sociais. É que, entre a subida do Senhor aos Céus e sua prometida volta no final dos tempos, cabe-nos encontrar os meios adequados para levar a Boa Nova a todos os recantos da terra. A inteligência humana tem encontrado, desde os mais simples sinais, qual sejam os olhares, sorrisos, lágrimas ou abraços, até chegar aos mais recentes e trabalhados meios de comunicação, vias que possibilitam a comunicação entre as pessoas. Estas vias podem servir ao bem ou ao mal, pois dependem dos que as utilizam! Por isso, o Dia das Comunicações Sociais seja o dia em que, como Igreja, desejamos entrar no coração das pessoas que realizam as comunicações, para agradecer-lhes e pedir a Deus por elas.
E como os cristãos acabam propondo coisas que parecem simples, mas que são importantes, chegue a todos, especialmente às pessoas que trabalham nas comunicações, a conclusão da mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2012, sobre “Silêncio e Palavra, caminho de comunicação”: “Palavra e silêncio. Educar-se em comunicação quer dizer aprender a escutar, a contemplar, para além de falar; e isto é particularmente importante paras os agentes da evangelização: silêncio e palavra são ambos elementos essenciais e integrantes da ação comunicativa da Igreja para um renovado anúncio de Jesus Cristo no mundo contemporâneo. A Maria, cujo silêncio “escuta e faz florescer a Palavra” (Oração pela Ágora dos Jovens Italianos em Loreto, 1-2 de setembro de 2007), confio toda a obra de evangelização que a Igreja realiza através dos meios de comunicação social”.

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