terça-feira, 30 de novembro de 2010

Bento XVI: “Cada JMJ é um autêntico dom”

No novo livro A Luz do Mundo, o Papa responde às tuas perguntas

O que sentiu quando foi eleito Papa?, como reza desde que foi nomeado Pontífice?, como enfrentou o tema dos escândalos sexuais?, como atacar o SIDA em África?, qual a sua opinião sobre as Jornadas Mundiais da Juventude?, qual é o principal desafio para os cristãos de hoje?

Bento XVI responde às perguntas do jornalista alemão Peter Seewald no seu novo livro-entrevista A Luz do Mundo. Entre outros muitos temas o Papa fala sobre as Jornadas Mundiais da Juventude, das quais disse que desde que se criaram se converteram num “autêntico dom”.

Como se de uma conversa tu a tu se tratasse, o Papa revela as suas preocupações, pensamentos e formas de ser mais íntimos. Em seguida oferecemos um extracto de alguns dos textos.

Jornadas Mundiais da Juventude
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Quando penso nos numerosos jovens que encontram em tais jornadas um novo ponto de partida e vivem depois espiritualmente a partir dele, quanta alegria fica depois do evento, mesmo também quanto recolhimento há durante as Jornadas, tenho que dizer que ali sucede algo que não é feito por nós”.

As Jornadas Mundiais não são mais um mero fenómeno de massa. É esse o entender de todos os que se vêem implicados nelas: “Na Austrália esperavam-se grandes problemas de segurança, dificuldades, conflitos, tudo o que acontece em manifestações de massa. Havia uma inquietação e tinha-se uma atitude crítica. No final, a polícia estava entusiasmada, todos estavam contentes porque não tinha havido nenhum contratempo”.

O segredo? “Simplesmente, foi a alegria comum da fé que tornou possível que centenas de milhares permanecessem em silêncio e unidos ao Santíssimo Sacramento. Neste recolhimento e nesta alegria, na satisfação interior e no autêntico encontro, na ausência de criminalidade, em tudo acontece algo totalmente assombroso, algo muito diferente do que costuma acontecer nos eventos de massa”.

Conclui: “E continuam a sentir-se os efeitos de Sidney, como por exemplo, vocações ao sacerdócio. Creio que com as Jornadas Mundiais da Juventude encontrou-se algo que ajuda todos (…) Espanha foi sempre um dos grandes países católicos com vitalidade criadora. Se Deus quiser, estarei de novo em contacto com ele na Jornada Mundial da Juventude em Madrid”.

Eleição como Papa

No dia do seu 78º aniversário o Papa anunciou aos seus colaboradores, como estava contente por estar próxima a sua reforma. Três dias depois foi eleito o Pontífice da Igreja universal, com mil e duzentos milhões de fiéis. Não é propriamente uma tarefa que alguém reserve para a velhice.

Perante essa situação o Papa responde: “Eu estava à espera de ter finalmente paz e tranquilidade. O facto de que me ver de repente perante essa formidável tarefa foi, como todos sabem, um choque para mim. A responsabilidade é realmente gigantesca. Tive um minuto no qual senti como se uma guilhotina caísse sobre mim. Nesse momento só pude dizer-me e assumir com clareza: segundo parece, a vontade de Deus é outra. Ele estará comigo”.

Como reza o papa Bento?
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“Como papa, tenho muitas mais ocasiões para orar e abandonar-me por completo a Deus. Pois vejo que quase tudo o que tenho que fazer é algo que eu mesmo não posso fazer em absoluto”.

Meteram-lhe medo as perseguições que recebeu?

“Se eu tivesse tido apenas aceitação, deveria interrogar-me com seriedade se realmente estava a anunciar o evangelho na sua integridade. Ser Papa não implica ter um domínio glorioso, mas sim dar testemunho d’Aquele que foi crucificado. É significativo que todos os papas da Igreja nascente foram mártires”.

Prevenir a SIDA

“O problema não pode solucionar-se com a distribuição de preservativos. Foi desenvolvida no âmbito secular, a chamada teoria ABC, que significa “Abstinence-Be faithful-Condom” (abstinência-fidelidade-preservativo), na qual não se entende o preservativo como ponto de escape quando os outros dois pontos não resultam efectivos. Quer dizer, a mera banalização da sexualidade é precisamente a razão perigosa devido à qual tantas pessoas já não encontram na sexualidade a expressão do amor, mas apenas uma espécie de droga que administram a si mesmas. É obvio que a Igreja não vê os preservativos como uma solução real e moral”.

Pensou em renunciar perante os escândalos de pedofilia?

“Foi impressionante para todos nós. Não obstante, o Senhor disse-nos que existe cisânia no trigo, mas que a semente, a sua semente, continuará a crescer. Confiamos nisso”.

“Se o perigo é grande não se deve fugir dele. Pode-se renunciar num momento sereno, ou quando já não se pode mais. Mas não se pode fugir no perigo e dizer: que o enfrente outra pessoa”.
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O desafio: tornar a fé compreensível

“Jurgen Habermas disse que é importante que haja pessoas que possam traduzir o tesouro que se conserva na sua fé de tal modo que, no mundo secular, seja uma palavra para este mundo. Creio que a nossa grande tarefa consiste antes de mais em trazer novamente à luz a prioridade de Deus. Devemos enfrentar com força renovada a questão sobre o modo em que se pode anunciar de novo a este mundo o Evangelho de maneira que chegue a ele. Hoje o importante é que se veja de novo que Deus existe, que Deus nos interpela e que Ele nos responde”.

Em espanhol, o livro foi publicado pela editorial Herder.

Fonte: Madrid.com

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